Meu nome é Christiane Berti Valente, tenho 40 anos, sou casada e “mãe de PET”.
Também sou muitas outras coisas: arquiteta por formação, gestora por profissão, consultora de imagem por paixão e faladeira por vocação.
Sempre me dediquei à minha família, ao meu bem estar e à minha vida profissional. Em 2011, saí da casa dos meus pais em Curitiba e mudei para São Paulo, a trabalho, cidade onde havia morado por toda infância. Apesar de precisar enfrentar sozinha alguns momentos difíceis no início e aprender a suportar a saudade da família, foi em São Paulo que vivi muitas de minhas alegrias: conquistar novas oportunidades no emprego, um apartamento no bairro dos sonhos, próximo ao parque, ter tempo para cuidar do corpo e da mente e arrumar mais tempo ainda para me dedicar às companhias da minha vida – meu marido e nossas “crianças PET” – Olívia e Palito.
Foi em 2018, com minha vida totalmente estabelecida, que meu mundo virou de ponta-cabeça. Certa manhã, notei uma mancha escura em minha blusa, que pensei ser café, então troquei de roupa e segui meu dia. Na manhã seguinte, notei a mesma mancha em outra blusa, no mesmo local. Decidi então fazer um autoexame e percebi que não se tratava de café, e sim de sangue. Pensei ser um machucado, mas por insistência de meu marido, busquei ajuda profissional. Fiz mamografia e ultrassom despreocupada, pois cuidava da minha saúde e os últimos exames estavam normais. Tal foi a surpresa dos médicos ao verem meu sangramento sem detectarem nada nos exames, que me sugeriram uma ressonância magnética. E foi quando essa nova fase da minha vida começou.
Eu não me considero uma pessoa otimista. Sou realista, mas tenho fé e gosto sempre de ver o lado bom das coisas.
Isso me fez, muitas vezes, ouvir e dizer que “para minha sorte” algum ruim ou não era tão ruim assim ou ainda tinha algo bom.
Pois “para minha sorte”, eu fiz essa ressonância e foi detectada uma alteração na mama esquerda.
Viajei às pressas para Curitiba, e escutei a palavra CÂNCER como uma possibilidade para o meu caso pela primeira vez, logo eu que me cuidava e não tinha histórico na família. Muito prática, lembro, nesse momento, de escolher fazer o tratamento em Curitiba, para não deixar meus pais desamparados, e de não saber como chegar na casa deles com essa possível notícia (eu nem tinha um diagnóstico ainda). Passei pelo mastologista que me sugeriu uma biópsia de um nódulo na mama esquerda. E, “para minha sorte”, após a biópsia apresentar um laudo negativo do nódulo, pedi para realizar uma análise da secreção escura que continuava presente. Algumas semanas depois, essa análise indicaria um derrame papilar hemorrágico, que me levou a uma quadrantectomia, a qual apontou um CARCINOMA DUCTAL IN SITU - e assim, dias antes do Natal, passei por uma mastectomia bilateral com reconstrução imediata.
2019 começou com vida nova e retomei minha rotina, sem quimio, radio ou qualquer outra terapia, apenas exames periódicos.
Quantas vezes ouvi que “eu tinha sorte”: de ter descoberto tudo no início, de não precisar seguir com um tratamento invasivo, de não ter perdido meus cabelos, de poder seguir minha vida “normal”.
Em 2021, após uma quarentena de Covid, fiz meus exames de rotina e tive meu segundo diagnóstico: a recidiva na mesma mama com metástase no osso esterno. Sem muitas explicações médicas, dessa vez, eu teria que passar por quimioterapia às pressas para só depois saber qual conduta o médico adotaria. Senti que perdi o chão, perdi tempo nas idas e vindas entre Curitiba e São Paulo, perdi explicações nessa história, perdi a confiança no médico que me acompanhava e decidi buscar uma segunda opinião. Então, a menos de uma semana de iniciar a quimioterapia, em consulta com um novo oncologista, ouvi todas as explicações que sentia falta, o que me deu segurança para mudar meu tratamento para São Paulo em uma nova conduta totalmente diferente: hormonioterapia e imunoterapia. Cancelei a quimio, agendei imuno e hormonioterapia, e, após 3 meses de tratamento, os exames não mais detectaram o tumor em meu corpo. Outra vez ouvi de muitos que “eu tinha sorte” por poder de novo seguir minha vida “normal”.
Sigo em tratamento até então; é minha nova rotina, não terei alta e tudo bem, pois o tratamento não me dá uma sobrevida, o tratamento me dá a chance de VIVER.
Engraçado como a gente acha que nunca vai passar por uma coisa dessas, e passa. E é engraçado que, quando a gente passa, a gente pensa que não vai dar conta, e dá.
Mesmo nos piores dias, não pensei em desistir. Tive medo e enfrentei todas essas etapas com medo mesmo.
Eu focava somente em ficar bem e ver as pessoas que amo bem também. Elas me davam força, e eu retornava essa força a elas, entre sorrisos e demonstrações de afeto.
Sempre falo que a vida é feita de altos e baixos, momentos bons e momentos ruins. Não há exceção.
Aprendi que não há culpados, não há “SE”, não há sorte ou azar. As coisas acontecem exatamente como e quando devem acontecer.
Precisamos aproveitar ao máximo os momentos bons, nos preparar para suportar os momentos ruins e ver que dos momentos difíceis levamos um ensinamento para nossa vida e para a vida de outras pessoas.
Sou CHRISTIANE VALENTE e faço jus ao meu sobrenome.
Estarei aqui para o que cada uma de vocês precisar. VOCÊS NÃO ESTÃO SOZINHAS.