Certa vez, ouvi uma médica dizer que a passagem para velhice equivalia a uma viagem pro deserto. Que era necessário organizar a bagagem ao longo da vida, reservar agasalhos quentinhos, preparar o físico para um ambiente hostil. Que era crucial cantar para manter as cordas vocais bem ajustadas e cultivar bons hábitos de muitas naturezas para chegar finalmente ao ambiente mais inóspito que existe na Terra. Pois bem, um belo dia eu acordei na menopausa e comecei a entender um pouco o que era chegar ao deserto despreparada. As minhas “peças” de 42 anos não tem o mesmo desgaste de alguém que já percorreu 60 e poucos anos de estrada, mas a minha mala não estava feita. Eu esqueci o agasalho acolchoado na mesa da sala, saí calçando apenas um dos pés, separei a valise de mão sem rodinhas e deixei o protetor solar para lá. Segui esbaforida antes que perdesse a última chamada pro destino. Chegando lá, atravessei um portal e envelheci 10 anos em 6 meses. Senti uma aridez inexplicável, algo como estar na caatinga debaixo de um sol impiedoso e de noite, um frio tão extremo que fazia doer todos os ossos do corpo.Tinha em mãos um pequeno cantil cheio do mais puro e precioso líquido, a água. Me encharquei com pequenas gotas que de tão raras pareciam um licor aveludado, mas o calor era tão intenso que o próprio corpo emitia labaredas que lambiam a testa e a pouca água que tinha nesse torso virava um intenso suor. Do topo da cabeça, embaixo dos peitos, na lombar, o fluido ia escorrendo por toda pele. Vi pingos atingirem o solo e serem imediatamente tragados pelos sedentos grãos de areia. Observei que todas as passageiras eram mulheres (andropausa fica prum outro post). Me aproximei de uma delas que abanava um leque continuamente e perguntei o que ela fazia para manter a vivacidade e a sanidade.
Ela me disse que a comunidade das mulheres em menopausa sempre viveu em silêncio pq são poucas as pessoas interessadas em escutar os velhos. Os jovens acreditam que nunca serão atingidos, ou que quando chegar a vez deles, tudo será diferente! Que haverá outros métodos de tratamento e prevenção e é por isso que a comunicação em comunidade parece ser mais efetiva. Então eu venho aqui compartilhar a minha vivência do climatério e dizer que tem sido muito mais desafiador que atravessar o tratamento do câncer! Também venho pedir que quem estiver à caminho do deserto traga na bagagem uma malinha extra pensando nas comadres que caíram de pára-quedas como eu e todas as mulheres que não tiveram tempo de levar mais que a roupa do corpo. Uma coisa eu garanti, a minha vontade de viver tá sempre a tiracolo.
Me conta, como tem sido a sua experiência com o bloqueio hormonal?
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MENOPAUSA, UMA VIAGEM AO DESERTO
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