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A melhor versão de mim mesma

A melhor versão de mim mesma
Camila Barros
fev. 5 - 5 min de leitura
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Vinte e três de agosto de 2022. Era por volta das 22h quando eu lembrei de pegar o resultado da minha biópsia no site do laboratório. Quando eu li carcinoma eu já sabia o que era. Fiquei assustada, busquei no Google e ele me deu 8 meses de vida. Chorei, mas não sei como, eu fui dormir. Minha consulta com a mastologista era na manhã seguinte e eu decidi que eu não ia sofrer por antecipação.

Dez meses antes eu havia saído pela primeira vez da casa dos meus pais, me mudei não só de casa, mas de estado, devido a uma proposta de trabalho. Era a primeira vez que eu, a filha mais nova e solteira, estava vivendo sozinha. E eu estava muito feliz trabalhando e arrumando o meu apartamento alugado.

Três dias antes do diagnóstico eu tinha acabado de mudar de apartamento, 80% das minhas coisas estavam em malas e sacos de lixo. Eu tinha muita coisa pra arrumar e pra viver.

Descobrir um CA de mama aos 32 anos de idade me tirou o chão. Mas anjos me deram as mãos e me guiaram nesse processo.

Aqui eu falo dos médicos, enfermeiras, psicólogo, família, amigos e da minha doguinha. Esses foram e são os meus anjos. Esse apoio foi fundamental para que eu nunca duvidasse da cura.

Lembro das palavras da mastologista como se fosse ontem: Câncer de mama não é um diagnostico de morte, é um diagnóstico de tratamento!

Lembro de não conseguir comer nada após consulta, e mesmo assim vomitar três vezes na tentativa de digerir a notícia.

Entrei em contato com o trabalho e meu chefe foi muito querido perguntou se eu queria voltar pra São Paulo e disse que a empresa iria arcar com 100% dos custos do tratamento.

Mas eu quis ficar. Se era pra viver o desconhecido, que fosse com o pacote completo!

Dei a notícia para as minhas irmãs e eu sabia que elas iam me ajudar.

E assim foi, por escolha própria eu fiquei, fiz o tratamento e trabalhei na medida do possível.

Minha mãe veio e me acompanhou na colocação do cateter. Minhas irmãs vieram e me acompanharam nas quatro quimios vermelhas e na primeira branca. Depois eu agradeci mas senti que era capaz de continuar sozinha o protocolo de 16 quimios.

Foram 5 meses trabalhando de segunda a quinta presencialmente e fazendo as quimios às sextas. Era impossível acordar todos os dias, me olhar no espelho me ver careca e inchada, às vezes com dores e e enjoos, e não pensar no que eu estava passando. Mas o trabalho foi muito importante nesse processo e ocupou a minha mente, fazendo com que eu levasse o tratamento de forma mais leve. Não me arrependo nem um segundo dessa escolha.

As pessoas foram muito queridas e empáticas. No trabalho nunca vi um olhar estranho ou de pena por parte de ninguém. Acho que eu estava mais calma do que alguns deles rsrsrsr. Eles vibraram e comemoraram comigo o fim de cada etapa do tratamento.

Durante todo o tratamento eu passei por dois episódios “estranhos”: uma vez a caixa do supermercado passou a minha compra e me olhou com os olhos marejados, eu só consegui sorrir pra ela, pois era impossível explicar que apesar de tudo, eu estava vivendo o momento mais feliz da minha vida. Na outra, eu fui em um café colonial e a atendente disse que faria um preço especial pra mim, pois acreditava que eu estava comendo menos devido ao tratamento. Eu agradeci, ri e falei pra ela que ela podia cobrar o valor integral, pois eu estava comendo o dobro e ia dar prejuízo ☺

Depois disso veio a cirurgia, novamente a minha irmã me acompanhou. As rádios foram tranquilas e os exames de acompanhamento também em sido.

Sim, a vida me exigiu muito, mas me fez descobrir como eu sou resiliente e corajosa!

O tratamento me deixou fraca por um tempo, mas hoje eu sei que sou muito mais forte do que antes.

Ele consumiu alguns meses da minha vida, mas me trouxe a oportunidade e a certeza de que eu terei muito mais tempo para viver e curtir essa jornada.

Me mostrou como eu sou querida, amada e admirada por pessoas que eu jamais imaginava.

Me fez acordar, sair do automático e voltar a sonhar.

Me fez enxergar o meu valor e lutar pelos meus objetivos.

Me ensinou a reclamar menos e a agradecer mais.

Me mostrou a finitude, e me ensinou a ser mais responsável, a cuidar da minha saúde física, mental, da minha alimentação e principalmente a não ser tão dura comigo mesma.

O câncer fez nascer uma nova Camila, consciente de que pouquíssimas coisas estão sob o meu controle.

Que tudo acontece no seu tempo, e que só me resta ser paciente e encarar de frente os desafios dessa jornada maravilhosa chamada vida.


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