Meu nome é Izabela Martina.
Já nem sei quem eu sou! Essa é a verdade! Difícil me definir e por isso, vou contar um pouco da minha história.
Vou começar falando sobre as coisas que me construíram até aqui. Sou mãe de duas preciosidades, Maria Flor de 6 anos e Benjamin, de 3 anos.
Casada com o com meu companheiro de tantas e tantas jornadas há 10 anos, Rafael.
Descobri, durante um auto-exame despretensioso, um nódulo na mama esquerda, no início da pandemia, durante o período de amamentação do meu caçula.
Em pouco tempo, descobri que aquele nódulo, que parecia tão indefeso aos olhos dos médicos, era na verdade, um câncer de mama agressivo, triplo positivo (com receptores de estrógeno, progesterona e HER2), grau 3.
Me lembro como se fosse hoje, a pausa no tempo que experimentei, com aquele resultado nas mãos, enquanto meu marido preparava o quarto para se isolar, devido ao diagnóstico de COVID, descoberto horas antes. Nós dois, com medo de doenças completamente diferentes, potencialmente fatais e igualmente assustadoras, enquanto nossos filhos brincavam no quintal, com a pureza da infância, alheios àquela situação.
Vou mentir se disser que me lembro tudo o que pensei. Me lembro de sentir medo e de olhar para meus filhos, como se estivéssemos em um filme (de drama ou terror).
Dalí em diante, eu decidi uma coisa importante: Meu plano A é ser curada. Meu plano B, é fazer meu plano A dar certo! Não sei bem onde foi que arrumei forças para pensar daquela forma, mas me lembro que precisei e aceitei ajuda de tudo e de todos, inclusive do antidepressivo.
Em 10 dias fiz a cirurgia que tirou o câncer e uma mama por completo. Restou mamilo e aréola, mas os linfonodos da axila foram quase todos embora, depois de perceberem que o sentinela tinha células tumorais.
Sou fisioterapeuta de formação e fiz minha própria reabilitação. Em pouco tempo já tinha de volta todos os movimentos funcionais do meu braço.
Passei por todos os processos do tratamento. Cirurgia, quimioterapia (fiz 6 ciclos de um protocolo chamado TCHP- uma aplicação a cada 21 dias), radioterapia e terapia alvo que começou com a quimioterapia e seguiu sozinha até completar 1 ano (a terapia alvo é o tratamento para o HER 2 com os anticorpos Pertuzumabe e Trastuzumabe). Após o tratamento, comecei a fazer o bloqueio hormonal com injeções de Zoladex a cada 28 dias e com comprimidos de Letrozol, diariamente. Sigo nessa fase chamada “menopausa química” e a previsão do médico é que isso dure no mínimo, 5 anos.
Durante a quimioterapia usei a touca gelada, com o objetivo de não perder os cabelos. Confesso que não achei tão ruim como parecia, mas não tive muito sucesso! Meus cabelos caíram bastante após o segundo ciclo de quimioterapia e eu preferi raspar tudo a ficar com aquelas falhas aparentes.
Me preparei muito para esse momento, mas confesso que me sentia pronta desde muito cedo. Expliquei para minha filha (na época com 4 anos), que tomaria um remédio que faria meu cabelo cair! Mostrei muitos vídeos de mulheres raspando a cabeça, com sorriso no rosto! Quando consegui convencê-la de que seria “legal” partimos para o ataque! Raspei a cabeça com um misto de nervos e alívio. Aliás, essa foi a palavra que guiou essa minha experiência: alívio! Me lembro o quanto me senti leve depois desse dia. Para mim, era como se eu estivesse encarando e aceitando tudo que o tratamento exigia de mim. Esse jeito de pensar me ajudou e eu decidi que, conscientemente, eu iria decidir o melhor jetio de pensar e me forçar a isso, se fosse para me sentir bem e forte.
Aprendi com essa fase da minha vida, que as coisas não são como queremos. A vida não pede nossa opinião. Aprendi a ter paciência (algo que eu precisava muito treinar) e aprendi a reconhecer minhas fragilidades, a chorar, a sentir!
A tempestade do tratamento passou! O silêncio que seguiu ao término dessa tempestade foi também desafiador e alí, eu aprendi a conviver com meus medos de forma mais consciente.
O que trago comigo é que, apesar da tempestade ter passado, a chuvinha fina que se segue após uma experiência como essa, também molha! Tenho meus dias de angústia e tristeza e consigo aceitá-los. Acolho a dor e aprendo com ela. Mas não a convido para morar comigo.
Aprendi tanto e cresci tanto! Não gosto de romantizar o câncer e todas as experiências avassaladoras que o acompanham. Mas aprendi que jamais sairemos da tempestade como entramos. E essa é a essência de qualquer tempestade.
Sou mestra e doutora em fisiologia humana, tenho paixão por ensinar e acredito fielmente que, o fato de compreender o corpo e os processos de doença, nos ajudam a afastar o medo do desconhecido. Compartilhei meus processos no instagram, gravei vídeos e ensinei sobre o câncer e sobre neurociência. Compartilhar minha dor, me fez mais forte e ensinar é o que me move. Meu maior objetivo com tudo isso, foi retribuir ao Universo tudo aquilo que tive como ferramenta para enfrentar essa fase tão difícil. E quero continuar sendo apoio e ombro para quem esteja passando por isso! Juntas, seremos sempre mais fortes, por isso, conto com vocês e quero que contem sempre comigo!