Ontem, fui ao posto de saúde para receber minha dose de reforço da vacina contra a COVID-19. Saí direto da academia, ainda um pouco suada, para aproveitar que estava no ritmo. Enquanto aguardava na fila, conversei com outras mulheres que também aguardavam suas vacinas. Comentei que havia concluído recentemente um tratamento contra o câncer de mama. As três demonstraram surpresa.
Uma delas evitou olhar na minha direção, outra disse: "Nossa, mas você nem parece que teve câncer! Parece que está em melhor forma do que a gente, tão atlética." E a terceira questionou: "Ah, mas você nem ficou careca, certo?"
O que mais me chocou foi que duas dessas mulheres eram profissionais de saúde, presentes para atualizar a carteira de vacinação antes de iniciar o trabalho em um hospital.
Embora tenha permanecido em silêncio, me arrependi depois. Deveria ter perguntado se o câncer e o sofrimento agora têm aparência definida. Por que tendemos a minimizar e negligenciar a dor que não é visível aos olhos?
Às vezes, parece que as pessoas esperam que você esteja mal.
Lembrei-me de um trecho do livro "Entre a lucidez e a esperança", escrito por Ana Michelle Soares, onde ela compartilha que, durante sua jornada de tratamento, percebeu que a solidariedade era seletiva. A empatia nos é concedida somente quando o sofrimento é visível, seja em nossa aparência ou na maneira como enfrentamos a vida.
Seria isso apenas falta de sensibilidade, tabu, seletividade, desconhecimento ou uma combinação de todos esses fatores?