Comunidade Anjo Rosa
Comunidade Anjo Rosa
Você procura por
  • em Publicações
  • em Grupos
  • em Usuários
loading
VOLTAR

Pós câncer - exercício de amor a mim mesma

Pós câncer - exercício de amor a mim mesma
Aline Perdonsin
jul. 31 - 7 min de leitura
070

Há um tempo atrás, eu havia me proposto um exercício, o exercício da empatia para comigo mesma, onde sempre antes de ser muito dura comigo eu pensava: eu falaria isso para alguém?

E se a resposta fosse NÃO, eu não falava ou nem pensava. Como as muitas metas que já coloquei pra mim mesma, esta também não durou por muito tempo.

Mas hoje é o dia de relevar as falhas e falar sobre suas coisas boas. Eu sempre sonhei em ser referência em alguma coisa e na maioria das vezes a minha frustração é por ainda não ter me tornado isso, há algum tempo, desde que me entendi uma mulher feminista, quero trabalhar de alguma forma para o empoderamento feminino, e sempre acho que ainda não deu, mas eu nunca parei pra pensar que já estou fazendo tudo isso sem me dar o crédito.

Desde a descoberta do câncer, eu não me surpreendi negativamente com nada e ninguém, meus amigos, os quais sempre dei tanto valor continuam ao meu lado, me apoiam, me dão palavras de incentivo e externalizam sempre sobre minha força, coragem e a maneira como lidei com tudo.

Por diversas vezes, durante os textos que fiz nesta jornada do câncer eu me mostrei sempre grata aos outros, e podemos até dizer que ressignifiquei muitas coisas inclusive a importância de ter quem lutar ao meu lado e sem perceber encorajei muita gente. Toda vez que me preparo para uma entrevista de emprego faço scripts sobre as perguntas que são padrão: experiências de trabalho, mudanças que consegui realizar ou implementar, tudo sempre surge com muita fluidez, com muita facilidade, porém quando é sobre exaltar meus pontos positivos, é como se um branco acontecesse e eu não dominasse o assunto. Vamos fazer este exercício.


1- Eu me considero uma pessoa boa, boa e ponto. Sem segundas intenções. E isso não quer dizer que eu seja uma mosca morta, apenas que eu decidi que é mais fácil acreditar e confiar do que ter sempre um pé atrás, eu sempre acho que se eu for boa pras pessoas, elas não vão ter coragem de fazer algo contra mim.


2 - Eu me considero uma pessoa amiga, tenho uma empatia muito forte pelas pessoas, quase sempre me esforço pra ajudar, dar conselhos e contribuir pra vida das pessoas, eu realmente me importo.


3 - Eu não guardo mágoas, tenho a memória curta e quase nunca levo pro coração os desaforos que já ouvi.


4 - Minha linguagem de amor é palavras de afirmação, eu encorajo pessoas, sou boa ouvindo e boa palpiteira.


5 - Eu sou sonhadora, mas ao mesmo tempo pé no chão, sempre penso nos prós e contras.


6 - Eu sou destemida, já viajei sozinha mais de uma vez, já fui pra outro país sem falar o idioma, voltei viva, cheia de gratidão e histórias pra contar.


7 - Eu SOU O bom humor, já ouvi de várias pessoas que sou iluminada, eu gosto de fazer com que as pessoas à minha volta se sintam bem, que se sintam à vontade, que deem risada comigo.


8 - Eu sou respeitosa: do porteiro ao CEO, todos têm o mesmo tratamento, e a mesma versão da Aline.


9 - Eu sou Vida Loca: eu já fiz diversas coisas só pela experiência e pra saber como eu me sentiria com aquilo.


10 - Eu sou bon vivant: gosto de aproveitar as coisas boas que a vida tem pra me oferecer, eu acho que dinheiro foi feito pra me trazer qualidade de vida e não pra ficar guardado no banco.


11 - Eu sou sincerona, provavelmente essa é minha característica mais conhecida entre meus amigos, aquela que fala tudo que quer de uma maneira que dificilmente é ríspida ou grossa.


Eu já consegui realizar alguns sonhos na vida e vivo adicionando coisas em minha bucket list. Eu sou a primeira da família a fazer uma faculdade tradicional, presencial e que teve a duração de 4 anos, eu já fiz um curso técnico, pós graduação, me tornei uma boa profissional, e até hoje não desisti do sonho de falar inglês. Durante toda a minha adolescência sonhei com o dia que iria para fora do País, eu consegui, passei um mês na África do Sul, sozinha.


Eu nunca sonhei muito com um casamento, mas sempre sabia como eu faria se me casasse, e tive uma cerimônia e festa linda, contratando os fornecedores que eu sempre tinha sonhado, com um vestido feito pra mim e um noivo no altar me esperando.

Eu tenho um marido que preenche boa parte da minha lista de requisitos de marido ideal, que se preocupa comigo, que me ama e que sonha junto.


Eu tenho uma casa alugada que é a minha cara, que eu consegui reformar antes de morar.


Eu gosto do meu estilo e acho que me visto bem.


Eu não perdi meus cabelos durante a quimioterapia, tive acesso a um tratamento de saúde de qualidade, consegui continuar trabalhando, fiz drenagem durante as sessões e hoje 4 meses depois eu já tenho um mega hair. Na parte de descobrimento de hobbies, já pratiquei várias modalidades, já fiz boxe, muay thai, jiu jitsu, crossfit, musculação, corrida e agora estou tentando natação, nunca aceitei não ser boa em nada e uma hora eu vou achar algo que me prenda e que eu sinta que sou boa, o importante é não parar.


Eu tenho um bom emprego, tive um bom crescimento profissional no último ano, tenho um bom salário e consigo realizar a maioria das coisas que tenho vontade.


Eu sobrevivi a um câncer, sem deixar a bola cair, sem me entregar, me abatendo pouco.


Eu sou forte mental e fisicamente.


Eu sou uma mulher bonita, eu sempre me orgulhei disso, sempre gostei do flerte, da atenção, da provocação.


Eu sou uma boa profissional, sou criativa, sou dedicada, sou autodidata, sou responsável, tenho domínio sobre os assuntos e passo credibilidade.


Parafraseando a pensadora contemporânea Anitta, hoje eu quero agradecer a mim, a mim que não parei, que não desisti, que não tirei o sorriso do rosto em nenhum momento, que fiz piada com a própria desgraça e tentei achar um fundo de coisa boa em tudo que me aconteceu, a mim que não tentei ficar tentando achar explicações apenas aceitei, encarei de frente e acreditei que tudo passa. A mim que fiz a minha parte e que da minha maneira mostrei que dá. Que mostrei pro câncer que ele não era forte o suficiente pra levar minhas raízes, pra mudar meu modo de ver a vida. A mim que passei pelo inferno e voltei.

Obrigada.


Denunciar publicação
    070

    Indicados para você