Eu gosto muito de escrever! Isso me ajudou demais durante meu tratamento e continua me ajudando muito atualmente.
Dia desses me peguei pensando em todas as vezes que sofri por estar sofrendo. Todas as vezes que me cobrei de ser positiva e de agradecer por tudo, apesar da dor. Todas as vezes que eu não respeitei meu sentimento, por acreditar que deveria ser forte o tempo todo e não respeitar minha humanidade.
E com o passar do tempo, aprendi que o certo mesmo, é a gente se dar um tempo. Há um tempo para sofrer, há um tempo para aprender! Não precisamos ser fortes o tempo todo e principalmente, não precisamos encontrar beleza em tudo.
Quando aceitamos isso, nos cobramos menos e achamos uma utilidade na tristeza.
Espero que vocês gostem do meu texto:
Dia desses li um poema de Adélia Prado que dizia o seguinte: “De vez em quando Deus me tira a poesia. Olho pedra, vejo pedra mesmo.” e continuava, com versos lindos e sinceros de alguém que sabe transformar em palavra escrita, o que sente.
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Mas eu ando cheia de questionamentos aqui dentro de mim. E a maioria deles, é sem poesia mesmo. Tenho me debruçado na filosofia (e o estoicismo é um movimento que me responde muita coisa), mas eu ainda me questiono: Precisamos mesmo achar poesia em toda pedra? Em busca de uma felicidade permanente, precisamos mesmo ter sempre uma lente para enxergarmos beleza no caos?
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Eu gosto dessa discussão. Ela me tira de um lugar confortável mas muitas vezes, me conforta mais ainda.
Em algum momento, passamos a acreditar que temos que ver tudo pelo lado bom. Que para todas as coisas, há um propósito bom, que uma porta se fecha e uma janela se abre, com vista para um lindo por do sol. É uma questão de paciência e tempo.
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Mas eu confesso, que essa visão me incomoda. Muito mais do que a dor. Porque “ter que enxergar poesia na dor” exige de mim um esforço que é sobrenatural no sentido exato da palavra.
Natural mesmo, é sofrer quando se tem dor.
Natural, é enxergar caos no caos.
Natura, é viver com (e não somente com) angústia.
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Eu escrevo isso num momento de bem-estar. Nessa situação, é muito mais fácil concedermos à positividade, um espaço que não lhe cabe. E gosto de pensar nisso quando estou bem, porque quando eu estou vendo pedra, na maior parte das vezes, eu só vejo pedra mesmo.
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Venho aprendendo a respeitar minha humanidade. Venho aprendendo que a dor é inevitável e o sofrimento também, muitas vezes.
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Quando vejo pedras, muito raramente busco utilidade para elas. Construir um castelo é a última coisa que penso em fazer quando as pedras aparecem. Aliás, eu sei que farei isso, independentemente do que o castelo representa pra mim. Mas minha busca por construção, na imensa maioria das vezes, só chega, depois que eu já sofri o que o sofrimento exigia de mim.
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Buscar poesia na pedra é algo que eu raramente penso enquanto a observo. Geralmente o que sinto é dor, angústia e confusão. As vezes raiva também, porque me irrita pensar que tenho que tirar dalí uma lição para a vida.
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A lição vem. Depois que saio do caminho das pedras. Mas só depois. E só quando me volta a paciência.
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Escrevo sobre isso num dia bom. O que me faz compreender o meu caminho como correto (claro, para mim, com meus sapatos, na minha própria consciência). Escrevo isso, porque me orgulho de não me cobrar encontrar equilíbrio no caos.
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Eu sei que eu consigo! Já tive provas de que me reerguer era questão de tempo. Mas enquanto o sofrimento existe, humanamente, eu sou incapaz de ignorá-lo.
Não acho saudável ver poesia na pedra. Não é comum e eu não acho normal.
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Pra mim, o sofrimento dói e normalmente é acompanhado de algum outro sentimento geralmente alocado no grupo dos ruins.
Mas quando a tristeza e a dor passam, dando lugar a outros sentimentos, eu volto a ver poesia.
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Eu até concordo que “é preciso um bocado de tristeza para fazer um samba bom”. Mas aposto que a inspiração e a tristeza não se encontram no caminho. uma vai, a outra chega.
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Adélia Prado, sua frase é linda! Mas, com todo o respeito que há em mim, me permita mostrar uma outra, que me cabe melhor em dias ruins:
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“Eu consigo. Eu só preciso sentar e chorar por meia horinha, mas depois eu consigo”.