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Eu sou a Leiliane

Eu sou a Leiliane
Leiliane Marins
nov. 1 - 6 min de leitura
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Me chamo Leiliane Marins, tenho quase 35 anos e hoje vim compartilhar com vocês a minha história.


Estou tratando um câncer na tireoide.

Em agosto do ano passado, fiz a retirada de um nódulo benigno do lado direito do meu pescoço, foi um procedimento estético.


Após alguns dias voltei ao médico e retirei os pontos. Eu deveria ter voltado ao cirurgião para análise da cicatrização, e eu com tantas outras prioridades não voltei. O nosso plano de saúde me enviou um e-mail solicitando o retorno ao médico devido ao procedimento que me submeti, precisava fazer o acompanhamento.


Ao retornar ao médico, ele examinou meu pescoço de ambos os lados e percebeu um outro nódulo mais interno do lado esquerdo. Fui orientada a procurar um endocrinologista. Marquei o médico, e fui orientada a fazer vários exames. Depois de alguns dias saiu o resultado que estava com um nódulo grande na tireoide.


Achei que era normal, sou uma pessoa acima do peso, e não me assustei. Ao procurar o cirurgião para a retirada ele passou a punção para identificar se era um nódulo maligno ou benigno. Ai o medo bateu na porta.


Eu estou sozinha em SP, minha família é toda do Rio de Janeiro.  Vim morar e trabalhar aqui para ter uma vida melhor. E ao pensar que poderia ser um câncer, começo a me assustar.


Não é a doença que dói, é o peso da palavra câncer. Quando o resultado do meu exame saiu e voltei ao médico, fui informada que meu câncer estava num estágio que o melhor tratamento seria a Iodoterapia.Isso foi no final do ano, às vésperas das datas comemorativas.


Eu me cale, não contei a ninguém. Fui para o RJ passar as festas com minha família, e tentei a cada minuto contar pra eles, mas não consegui. Sempre fui tão forte, não quis aceitar que eu precisaria de uma rede de apoio. Achei que daria conta sozinha.


Em janeiro eu decidi me tratar. Sem falar com minha família e amigos, apenas chamei a minha chefe e a avisei da minha situação. Pois faria as sessões durante a semana um pouco antes do horário de trabalho, e poderia ter dias que não conseguiria trabalhar. Sempre amei meu trabalho, não queria usar atestado ou declaração de horas... meu trabalho é tudo que tenho e por ele me esforçaria até o limite, sempre dando o meu máximo.


Em fevereiro perdemos um amigo da equipe. Foi difícil para todos, e descobri que eu poderia ter uma rede de apoio no lugar que mais gosto de estar. E depois de algum tempo, consegui compartilhar com minha família, com meus amigos e com minha equipe o que estava passando.


Vocês não tem noção de como foi confortante e leve dividir minha dor, minhas lágrimas, meus medos e principalmente minha doença com tantas pessoas que só queriam meu bem.


Após o tratamento o médico resolveu refazer os exames para saber como estava a evolução, então descobrimos que meus exames estavam todos alterados: Pré diabética, gordura no fígado, colesterol, e muito mais.


Como falo para algumas pessoas, sempre fui uma pessoa saudável, independente do meu peso, mas essa doença veio e bagunçou minha vida... minha imunidade despencou, e comecei a ficar doente com qualquer coisa. Fazia um tratamento para curar uma coisa, aparecia outra doença, tratava ela e aparecia outra. E isso foi por meses. Exames, internações, medicamentos... minha vida estava resumida a isso.


Em junho o médico finalmente decidiu operar e remover esse câncer. Fiz os exames pré operatórios e quando fui marcar a data da cirurgia tivemos uma grande surpresa: Meu nódulo do nada havia sido reduzido a ponto de não ser mais operável. Fui a 2 médicos, o meu e um outro que foi indicação... ambos olhavam meus exames sem entender. O exame de 1 mês atrás tinha um nódulo gigante que tinha que ser removido, e o outro de um que era tão pequeno que se fosse operado seria um risco, eu poderia pegar uma infecção e seria fatal.


Eu acredito em Deus, e respeito que não acredita. Mas a minha vida sendo fácil ou sendo difícil, sei que Ele nunca me abandonou.


Eu só sabia chorar, liguei para as pessoas mais próximas para compartilhar minha felicidade. No decorrer desses meses eu já ouvi de tudo, mas tem uma frase que não me esqueço: Ahhh, câncer da tireoide é o melhor que tem, ele não mata.

Câncer é câncer.


Eu sinto pelo sofrimento de todos que já passaram por isso, eu me solidarizo com as pessoas que perderam alguém para essa doença.

Não desejo isso pra ninguém!

Refiz os exames mais uma vez, e foi detectado que em volta do meu câncer há células cancerígenas que devem ser bloqueadas para não prejudicar meu tratamento. Diante disto, estou fazendo um novo tratamento com um medicamento via oral que acaba no início do mês que vem. O remédio é forte, não se compara a uma quimioterapia. Porém fiquei mal, os efeitos eram inúmeros, mas foi mais uma etapa que passei e posso dizer que acredito que está acabando.

Outubro Rosa nunca se tornou tão importante na minha vida como esse ano.

Faço acompanhamento semestral da mama, pois minha avó faleceu de câncer de mama.

É o que dizem: quando acontece com o outro é sempre mais fácil, quando é com a gente, é uma mistura de sentimentos que você fica perdido se não tiver apoio.

Se ame!

Se cuide!

Não lute sozinho!

Hoje sei que nunca estive sozinha, e sou muito feliz com isso.


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