Sempre fui a caretinha da turma. Segurei muitos cabelos compridos para que não chafurdassem em gorfos etílicos. O chuveiro de casa já banhou com águas gélidas amigas que gostavam de testar seus limites, como se atravessassem um delicado vitral craquelado e meu fígado sempre foi um cara sensível, sabe e umas das coisas mais desagradáveis aos meus olhos é vomitar, então eu tinha piedade dele preferindo exercer minha função de médica socorrista com maior entusiasmo. Até que um dia desses encontrei anotações do processo da quimioterapia. Uma intoxicação em doses contínuas… Entenda, minha intenção com esse post não é desqualificar a medicação e o seu uso, apenas ilustrar a forma que me senti e presenciei alterações acontecendo progressivamente no meu corpo.
Fica tranquilo, é tudo regulamentado pela Anvisa!
Durante as aplicações buscava descontrair dizendo que aceitava mais uma dose de Aperol Spritz, afinal a doxorrubicina e o coquetel italiano reluzem como um rubi precioso, exibindo um potente pigmento vermelho sangue. A antraciclina é um influente serial killer de células tumorais, o “Jack Estripador” das medicações! Mas às vezes eu sentia uns golpes do resultado do “pega-pega” que rolava dentro de mim! Enquanto me despedia das sobrancelhas que eram encontradas toda manhã na fronha, sentia a cabeça vagar. Inicialmente, havia uma certa euforia causada pelas pré-medicações. Mais tarde, sentia alguma distorção auditiva e visual, como se tudo acontecesse em câmera lenta. Alguma vezes o efeito era dissociativo, como se meu corpo e mente estivessem desplugados. Uma coisa era certa, a ressaca sempre vinha!
Dois anos depois estou começando a elaborar melhor essas vivências e tenho feito co-criações usando inteligência artificial sobre como foi todo esse processo.
Se você estiver nessa “bad trip” segura firme que essa onda passa!
Aproveite para me contar se vc tb sentiu algum destes efeitos causados por essas terapias.
Um onco beijo da Carol.
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Doxorrubicina
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