Olá!
Meu nome é Carolina Cury. Nasci em São Paulo em 1980 , na década em que os penteados de sucesso eram cabelos frisados arrepiados, a crista da onda era ombreira, lycra e roupas fosforescentes e o ápice era ter uma fita cassete pronta para gravar suas canções favoritas do rádio!
Se você chegou até aqui é por que provavelmente precisa de um abraço apertado! É possível que tenhamos algumas coisas em comum, como um diagnóstico desafiador de receber...
Sabe, sempre fui alguém preocupada com o bem-estar, você também? Fazia exercícios regularmente, dança e yoga! Meditação, thetahealing, terapia para cuidar da mente e alimentação saudável eram parte da minha rotina de cuidados. Me dedicava a uma profissão pela qual cultivava profundo afeto: a fotografia! Poxa, mas que vida boa! O que podia dar errado?! Então, em 2016 vivendo um momento gostoso da existência, entrei para a estatística.
Tudo começou
quando observei alguns sinais estranhos do meu corpo. Dificilmente ficava doente e minha imunidade começou a cair muito. Além disso, notei uma mancha arroxeada próxima a aoréola de um dos meus seios. Uma secreção começou a sair do bico. Procurei por duas ginecologistas de confiança e elas acharam que pudesse ser algum fungo e ambas prescreveram uma pomada de uso tópico. Três meses se passaram, os sintomas persistiram e eu senti que havia algo muito errado acontecendo comigo. Pedi para fazer uma mamografia que só foi prescrita diante da minha insistência. A biópsia foi feita em seguinda e o resultado veio alguns dias depois. A médica me atendeu por telefone confirmando o diagnóstico de câncer de mama in situ. Ao final da ligação ela emendou: "tens sorte por não ser um tumor invasivo!". Congelei por um instante e depois caí no choro. "Não é possível que isto esteja acontecendo comigo! Logo eu que levo marmita pro trabalho, que conheço a importância do exercício, que cuido da minha saúde mental! Buaaaa!" E foi uma longa semana dramática com direito a muitos soluços.
Hoje eu consigo ver que passei por todas as fases do luto; negação e isolamento, raiva, barganha, depressão e por fim, aceitação. Neste processo, entendi que a adenomastectomia poderia me salvar. Fiz uma reconstrução imediata da mama e segui em frente sem grandes efeitos colaterais. A maior das consequências foi a sensação de solidão que experimentei. Escolhi passar por tudo isso em silêncio, compartilhando apenas essa experiência com a família nuclear e o meu companheiro de vida. Me sentia um tanto envergonhada por estar doente, ainda mais se tratando de uma efermidade tão estigmatizada como é o câncer. Na época, procurei por algumas comunidades nas redes sociais e fiquei ainda mais impactada com os relatos que encontrei.
A vida seguiu e o fantasminha do câncer continuou a me assombrar. Comecei a ter medo de fazer meus exames de rotina e sumi dos consultórios médicos por 2 anos. Foi então que veio a pandemia e num episódio de crise de ansidade, sofrendo com falta de ar, fui parar num querido pneumologista acreditando que estivesse com covid. Ele me pediu uma tomografia do tórax e verificou que meu pulmão estava perfeito, mas que haviam nódulos bastante suspeitos no meu seio, novamente.
Nos meus planos perfeitos, eu e meu marido havíamos nos programado para morar na serra, longe do clima claustróbico, das máscaras apertadas e da falta de horizonte no céu da cidade. Mas a vida quis diferente e me vi novamente arrebatada por um segundo diagnóstico, desta vez, um câncer invasivo que já tomava a axila e comprometia muitos linfonodos. Eu não preciso nem te contar que aquela semana de lamúrias voltou a acontecer, né? Me lembro de ter brigado com muito com Deus, sim, por quê mesmo os filhos obedientes tem seus dias de indignação e rebeldia! Então depois de me debulhar eu rezei. Orei muito para que eu pudesse atravessar esse momento com sabedoria. Pedi orientação divina e me rendi ao árduo tratamento. Comecei optando por congelar meus óvulos, afinal, tenho 42 anos e não tenho filhos. Foram algumas semanas de uma oscilação hormonal intensa! Depois foram 16 sessões de quimioterapia, 4 vermelhas e 12 brancas! Por fim, a parte mais dolorosa deste ciclo, a mastectomia radical com recolocação imediata da prótese. Vencido este estágio , começaram as 25 sessões de radioterapia.
Procurei fazer de todas as etapas um momento de alegria mesmo diante de tantos desafios. Chegava ao hospital e cumprimentava todo mundo, pedia uma comidinha especial na Copa, meu parceiro se propôs a aprender a tocar piano e sempre que chegávamos ao ambulatório, ele aproveitava para compartilhar as canções que havia aprendido na semana anterior. No final, me dava uma espécie de compensação por ter vencido mais um dia e fazia algo que gostava muito.
Acredito ter fechado um ciclo precioso de muita aflição numa jornada profunda e necessária de autoconhecimento. Doeu horrores, literalmente me arrancou um pedaço! Desde então eu entendi que é preciso valorizar TUDO, hoje, agora. Atrase o relatório mas não deixe de ligar hoje para dizer “olá, que saudades senti!”, “te amo!”, “você é importante para mim”. Ao longo destes anos, fui perdendo o medo de parecer ridícula, exagerada, que demonstra muito os sentimentos! Eu passei a verbalizar o que sinto e enxergar a beleza nas situações cotidianas. Isso refletiu totalmente nas minhas fotos e ilustrações. Eu falo sobre afetos, sobre como é bonito levantar e ver o sol, ou admirar a chuva, sobre observar atos simplórios como ver alguém lendo um jornal numa praça, tropeçando na catwalk ou ensinando algo para uma criança. A vida é tão simples. Eu entendi isso depois de desistir de querer ser forte o tempo todo. Neste processo, mostrei minhas vulnerabilidades, algo que exige muita coragem! Tenho conhecido pessoas incríveis que dão muito amor, afeto e suporte e descobri que quando a gente se mostra como é o nosso mundo muda para melhor! Me permito celebrar, mesmo num momento tão angustiante do mundo, por que são as pequenas atitudes que mantém nossa chama nutrida. Portanto, se você chegou até aqui, receba o meu carinho! Esta fase é difícil, sim, mas ela vai passar e pode ser um momento de transmutar tudo aquilo que te feriu <3