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Com a insônia me descobri uma escritora - Parte 2

Com a insônia me descobri uma escritora - Parte 2
Aline Perdonsin
nov. 5 - 7 min de leitura
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Depois de um tempo sem publicar, voltei pra terminar de contar a história...


AS SEMANAS SEGUINTES


Foram muitos exames, muitos mesmo, mais duas novas biópsias, conheci a Dra. Maria Cristina que é quem é responsável pela parte clínica do meu tratamento, gostei muito dela, também é uma querida, mas acho que já não estava mais tão carente. Novos medos foram destravados, agora descobri que a Quimioterapia pode prejudicar a qualidade dos meus óvulos, e meu marido como alguns sabem nutre o sonho da paternidade, ao contrário de mim que sempre esbravejei que gravidez antes dos 30 era uma insanidade, que as mulheres deviam focar em outras coisas, bla bla bla.

Fomos à consulta com a Dra. Patricia, a gente já sabia que seria inviável porque o plano não cobre, mas o Marcos ainda precisava ouvir tudo que podia sobre. 15 mil reais em 10 dias (fora o valor da fertilização posterior) na nossa situação era bem difícil de conseguir, não era impossível, mas na minha cabeça existiam muitos poréns (esqueci de falar que em 2021 tive uma gravidez ectópica, o que complica ainda mais as coisas em uma nova gestação), meu pensamento recorrente era:  e se eu gastar essa grana toda e no final o FIVE não funcionar? Porque afinal, não é uma garantia, é quase que um seguro de óvulos. E se eu morrer? e se eu me separar... são muitos E SES... bom, não fizemos. Nos dias seguintes teve a implantação do cateter no meu peito, próximo ao coração, na hora não fiquei feliz, eu estava preocupada com a saúde? Lógico que não, eu estava preocupada com mais uma cicatriz, mais uma marca que o câncer ia deixar em mim e o que eu poderia fazer pra esconder depois. (Hoje agradeço pelo cateter) Meu fútil pensamento sempre é voltado pra isso. PREOCUPAÇÃO NÚMERO 2

Na verdade, isso é o que mais me pega, sempre pegou e com certeza é o calcanhar de aquiles das mulheres: E O MEU CABELO? EU VOU FICAR CARECA? Eu sempre fui muito engajada em causas sociais, nas empresas em que já fui responsável pelo setor de marketing sempre levei campanhas oncologicas (Outubro Rosa, câncer infantil, próstata) eu acho bonito demais o orgulho e a força que as mulheres com turbante passam, mas e eu? Eu não queria passar por isso.

Quem me conhece sabe que eu sempre me escondi muito atrás do meu cabelo, hoje me auto analisando eu vejo que projetei todas as frustrações que tive por ter um corpo que eu considerava feio, na compensação de ter um cabelo e um rosto bonito, na verdade, acredito que todas as mulheres acima do peso vão entender o que estou falando agora.

Mas enfim, eu brinquei com a Dra. Maria Cristina que eu não aceitava que todo o investimento de shampoos, hidratação, mechas, simplesmente fossem pro ralo (literalmente) eu precisava fazer alguma coisa, naquela época já tinha ouvido falar sobre a crioterapia, mas ainda não sabia se isso se aplicava a mim (ta ai meus privilégios novamente). Decidi fazer uso da tal touca, mas estou bem ciente do índice de rejeição e de que pode ser que não funcione, mas minha parte eu to fazendo em Deus, segura meus fios aí. 

(spoiler 5 sessão e ainda tô cheia de cabelos).

SOBRE A TOUCA

Eu graças a Deus sempre tive muito cabelo, ficar calva nunca nem de longe foi uma preocupação na minha vida, pelo contrário, eu sempre brinquei que tinha cabelo pra duas, pois bem, agora vamos ver se é verdade né. Eu desenvolvi uma maneira bem didática de explicar a sensação de usar a touca, espero que ajude. É mais ou menos como pular numa piscina de água bem gelada, todo mundo já fez isso vez ou outra na vida, eu fui do time que fez isso a vida toda, piscina no condomínio em Curitiba, dificilmente teria água quente, né. Então eu meio que não sofro tanto, graças a Deus, acho que tenho uma sensibilidade boa pra frio, fazemos uma aplicação de dipirona antes e tá tudo certo, saio sem sofrer. Ela também dá uma sensação de aperto na cabeça, então para exemplificar é mais ou menos como uma calcinha apertada no meio da bunda, incomoda, você sabe que tá ali, mas é suportável. Lembrando que cada pessoa é uma, você não precisa passar por isso, eu escolhi passar por isso, porque pro meu limite de dor é ok, mas não se coloque a obrigação de ter que, você não tem que nada, tenha respeito por você e pelo seu processo.

SOBRE A QUIMIOTERAPIA

Serão 16 sessões ao todo. 12 das chamadas quimioterapias brancas e 4 das tais vermelhas. Meu tratamento é um composto de quimioterapia + imunoterapia. Não vou escrever coisas técnicas aqui pra não ficar chato, mas basicamente é um estudo chamado KEYNOTE 522 que consiste na combinação das drogas acima, aplicadas da maneira como eu escrevi. É o melhor método que se encaixa para o meu caso, se o seu não for esse consulte com o seu médico e tá tudo bem. Eu estou bem segura e confiante com relação aos profissionais que me acompanham. Não tenho tido grandes reações até o momento, alguns dias me sinto mais disposta em outros menos, alguns dias sinto dores musculares ou de cabeça, mas nada que seja digno de reclamação. Hoje é dia 04/11 e já fiz cinco sessões de QT, meu tratamento foi liberado de forma muito rápida. Meu câncer não tem nenhuma metástase, está apenas na mama esquerda, tem uma taxa de proliferação de 97% e por isso precisamos agir rápido, mas graças a Deus, também tem boas taxas de regressão, então vai dar certo. Uma coisa que tem funcionado muito pra mim é pensar que esse é um tratamento pra vida, eu estou fazendo isso pra me manter viva, é só uma etapa do processo, então eu não aceito ficar mal, a quimio veio pra me salvar não para tirar o resto de vida que tenho.

Esse texto ainda não acabou, mas vou parar hoje por aqui, assim não fica tao cansativo e logo eu volto com a última parte. 

Tenho boas notícias, estou fazendo terapia, então as poucos tenho me conectado um pouco mais a mim, e analisado mais meus medos. Hoje ouvi da psicóloga que preciso parar de invalidar meus medos, já que eles são meus e me assombram, agora começa a lição de casa de tentar trabalhar melhor iss. 


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