Esses dias sem sono pós quimioterapia, decidi que tinha que colocar pra fora tudo que me amedontrava naquele momento. A história da descoberta no câncer em minha vida.
Essa especie de diário que parece que não foi feito pra ser publicado, vai tomar voz aqui, ainda não sei se é o local correto, ou se pode. Mas mesmo que ninguém leia, o sentimento de publicar é bom.. vamos lá...
E depois...
COMO ACONTECEU
Me chamo Aline, tenho 30 anos e em setembro de 2022 fui diagnosticada com um câncer de mama triplo negativo. Pois é, 30 anos, recém casada, 4 meses após assumir um novo desafio profissional e por sinal, que desafio. Logo eu, que sempre fui tão cheia de vida, sonhos e ambições profissionais, me vi cercada de medos: medo de nunca ter uma gestação, medo de me ver sonho profissional desabar, medo de ver meu recém casamento desmoronar. Logo eu, que gostava de me achar a destemida.
Essa não é uma história de vitimização ou de procura por respostas, graças a Deus eu não tenho passado por grandes confrontos internos quanto a isso. Vamos do começo… no meio de agosto de 2022 eu senti um nódulo grande no meu seio, estava no meio de uma viagem que fiz a trabalho, quando retornei logo procurei meu médico ginecologista que fez o exame de toque junto comigo e solicitou uma U.S de mamas, fiz e o nódulo estava lá: ENORME, eu ainda não sabia do que se tratava, então não liguei, afinal eu só tenho 30 anos, faço exames regularmente, sou “saudável”, não tinha nenhum histórico familiar. Após ver o exame ele solicitou uma biopsia e mais uma vez disse: Não deve ser nada, fique tranquila, assim o fiz, 15 dias passaram após a biópsia, eu sentia dores quase sempre noturnas no meu seio, queimações e dava pra ver o aumento, mas ainda assim, não me desesperei. Numa sexta-feira (17 de setembro) lembrei de ver o resultado, assinei os termos e pedi que o laboratório me enviasse via e-mail, afinal na minha cabeça era uma infecção e eu queria logo tomar os remédios para o tratamento, foi então que as 9h50 da manhã meu chão se abriu, eu não precisava ser nenhum tipo de especialista para entender que carcinoma ductal e malignidade na mesma frase não era sinal de coisa boa. Tentei disfarçar, continuar trabalhando, mas cada vez que lia o diagnóstico ou procurava sobre, no bendito google eu não conseguia conter as lágrimas. Até que meu gerente me chamou pra conversar e perguntar o que estava acontecendo, assim que soube teve a atitude mais humana possível, me mandou ir para casa, se ofereceu pra ir dirigindo meu carro ou pra que alguém me levasse (obviamente neguei, porque afinal, eu sou durona né) e corri para a casa dos meus pais, onde quase matei meu pai do coração (que sofre com suas próprias comorbidades advindas da diabetes) contando o diagnóstico.
O ENCONTRO
Eu sempre me importei muito com vaidade e infelizmente ou talvez felizmente o pensamento das outras pessoas sobre mim sempre me impactou bastante. Olhando o meu passado posso dizer que 90% de todas as ações ruins que tomei na vida foram motivadas por dois únicos e exclusivos sentimentos: EGO e ACEITAÇÃO. Como mulher, e principalmente mulher acima do peso é muito difícil não fazer comparações, sejam elas com mulheres mais jovens, mais velhas, mais bonitas, mais magras, mais feias, qualquer tipo que represente o mínimo de ameaça, me envergonho por isso, mas é a verdade, tudo pra mim sempre foi baseado em aparência. Voltando, estava fazendo um tratamento dermatológico para tratar espinhas da mulher adulta e um dia precisei de um atendimento de urgência para tratar um furúnculo, liguei para o consultório, expliquei a situação que tava bem feia por sinal e a secretária me disse: “A Dra. Carol não está, mas pra te ajudar a Dra. Priscila vai te atender, ela é cirurgia, vai te encaminhar” eu não conhecia, mas estava desesperada então fui, ali ela já foi um amor, mas toda as vezes que eu olhava o nome dela na parede e embaixo escrito CIRURGIÃ ONCOLÓGICA eu tinha arrepios, ali mesmo no consultório ficava torcendo para que eu nunca precisasse de um atendimento dela. Enfim, a Dra. me ajudou naquele dia tive um surto de pânico enquanto estava voltando pra casa, por que eu me achava uma fracassada por estar passando por aquilo.Importante salientar que tudo na minha vida eu coloco ou colocava a culpa na obesidade, então mais uma vez foi isso que eu fiz, chorei copiosamente porque eu não tava acreditando que tudo aquilo tava acontecendo porque eu sou gorda, porque eu não me cuido e bla bla bla (terapia gente, eu tava tentando, mas a unimed não tava me ajudando na época).
Desculpem o devaneio, eu precisava contextualizar. Voltando ao câncer, depois que fiquei sabendo, rapidamente eu percebi que minhas buscam no google iam só me afundar mais que eu não tinha tempo e nem saúde mental para aguardar meu amado Dr César conseguir me atender, pensa só, o homem é obstetra e ginecologista, tem a própria clínica, o trabalho de trazer bebês no mundo não pode parar. Ele é pior que o Julius (spoiler: descobri recentemente que todos os médicos são loucos assim, e eu reclamo das minhas 9h por dia.) Voltando… mandei uma mensagem pro consultório da Dra. Carol pedindo ajuda, falei que já estava com a biópsia na mão com o resultado da malignidade e que precisava de ajuda, precisava conversar com alguém, para a Glória de Deus ela me conseguiu uma consulta pro dia seguinte, e aí você acredita agora na provisão de Deus ou não?
Naquele sábado, eu cheguei no consultório arrasada, desmotivada, querendo culpar tudo e a todos, eu realmente não podia abrir a boca que saia choro. E então eu ouvi a seguinte frase: coloque um tempo pro seu luto, chore, sofra é normal, mas quando você se reerguer vire dona do seu tratamento e lute por isso, foram 2 horas de consulta, 2 horas que com o olhar mais humano e empático do mundo a minha paz foi restabelecida. A Dra. Priscila, tirou minhas dúvidas, não romantizou como seria em momento nenhum, mas principalmente me acolheu, sai do consultório com muitas guias médicas e uma semana intensa de descobrimento pela frente e também muito ciente do meu privilégio em ter encontrado uma equipe e um tratamento tão bons (Faltou o agradecimento aqui para Jessica secretária da Dra. Pri que agendou todos os meus exames, fez encaixes, eu só me dei ao trabalho de tentar não me atrasar mesmo). Os medos acabaram? Lógico que não, lembra que eu falei, eu sou uma pessoa 100% estética.
Pra que esse post não se estenda demais vou parar por aqui, ainda deve ter mais umas 6 páginas pra publicar, outra hora eu volto..