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Carta aberta de uma Paciente com Câncer de Mama

Carta aberta de uma Paciente com Câncer de Mama
Gabriela gomes Magalhaes
dez. 8 - 8 min de leitura
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Somos uma em cada oito mulheres que ouvimos em algum momento de nossas vidas, que temos o temível câncer de mama.

Huuum... cruzar esse limite invisível para um lugar que nenhuma pessoa comum possa seguir.  Isso é o que queremos que qualquer pessoa seguindo os nossos passos escute: "Você tem câncer de mama", são as únicas palavras que escutamos no consultório, o que mais ouvimos e aprendemos é um borrão.

Pois, estamos em estado de choque, e nas primeiras semanas após o diagnóstico, queremos apenas que alguém sente ao nosso lado e nos dê espaço - para escutar, para que possamos ter medo, mas, ao mesmo tempo esperança e a certeza da vida.

Nossa, ouviremos trivialidades vazias de pessoas que se preocupam com você e que oferecerão as mesmas frases sem graça: "você vai ficar bem"; "você é forte"; "olha a situação da fulana, está bem agora"; "Ah, é só um peito"; "Fica tranquila, cabelo cresce"; "o importante é você estar viva, o resto você vence"... Huuum, será que com essas frases as pessoas estão pensando em nós, ou somente no CÂNCER?

É uma verdade universalmente reconhecida que o estado de ‘não saber’ (é agressivo? se espalhou?), seguido de perto pela angústia de ‘esperar’ (pelos resultados) causam uma grande confusão.

Quando nós tivermos o plano de tratamento, iremos nos fortalecer e, embora com medo, conheceremos os fatos sobre a quimioterapia, ou a mastectomia, e com isso nos ajudará a nos sentirmos mais preparadas e no controle.

Esses tratamentos são difíceis, dolorosos, diria... INSUPORTÁVEIS, mas, dentro de cada uma de nós, está a coragem e a força que nós não conhecíamos e, suportaremos tudo o que vier.

Não vamos comparar os tipos de câncer de mama, e por favor, vamos parar de escutar o que os "amigos" dizem, tá? Pois, você está com CÂNCER, e o seu CÂNCER é ÚNICO, pois, é SEU. Existem vários tipos que crescem em diferentes partes do seio e em ritmos diversos. Algumas mulheres se submetem à mastectomia, e outras somente a cirurgia do quadrante, ou algumas nem operam. Nem todo mundo vai precisar de quimioterapia, mas, nós que fizemos, ou que vamos fazer gostaríamos de estar no controle dos efeitos colaterais, né?

Por favor, não se compara com aquela "conhecida", "amiga", "irmã", "tia", pois, talvez a sua maratona foi ou será diferente da delas.

Você precisará descansar depois da cirurgia, mas vai se recuperar... acredite! E você, vai conseguir se olhar no espelho, tá? E deixar seu companheiro, ou companheira tocar nas marcas, que considero marcas de amor, onde em um momento foi dor. Algumas, passarão por tratamentos hormonais, mas, calma... vai passar, vamos segurar a ansiedade. Também não sabíamos ou não saberemos sobre as muitas mudanças físicas, porém, fazem parte da nossa jornada.

Muitas pessoas dirão que você é ‘forte’ e ‘corajosa’, que ‘deve reagir e dar um pontapé na bunda do câncer’. Mas, por trás de toda essa conversa de batalha, você pode estar simplesmente assustada. Quero que saiba que não nos sentimos corajosas sempre, tá? Muitas vezes nos sentimos ou sentíamos que nunca havia outra possibilidade a não ser seguir em frente, pois, o nosso desejo é viver. Digo, nosso maior desejo É VIVER.

Ahh, e aquela frase "você teve sorte, seu câncer foi descoberto cedo, pode ser tratável". Mas, ter câncer nunca te faz ser sortuda. Não existe isso de câncer "bom".

Este é um momento no qual seus amigos e familiares se unirão ao seu redor, e nós descobriremos que amor é um verbo — precisaremos de amigos que apareçam com uma panela, que nos façam rir, que nos deem caronas ao hospital, ou faça alguns doces para comer, que apenas sentem ao seu lado na sala de espera, ou apenas que fiquem em silêncio, pois, esse momento É SOMENTE NOSSO. Ahhh, alguns de nossos "amigos" poderão nos abandonar completamente, talvez tenha o famoso membro da família que ja teve câncer ou que têm medo da palavra "câncer" que te tratará como bebê, ou que esquece que VOCÊ esta com câncer. Mas, também encontraremos gentileza nos lugares mais inesperados, frequentemente de estranhos.

Inicialmente, nos sentiremos sufocadas com as ofertas de apoio, mas, saiba PRECISAREMOS DE AJUDA. Sabe o que sentimos "fadiga da simpatia" rs. Vamos então lembrar de tocar a campainha quando estivermos precisando, em especial no momento em que estaremos mais para baixo, mesmo quando queremos ficar sozinhas, ou dissemos que queriamos ficar sozinha, pois, no fundo não queremos estar sozinhas.

Não vamos tentar consertar tudo, tá? Precisamos das pessoas, e em algumas momentos precisaremos de ajuda.

Muitas vezes nos sentiremos satisfeitas quando aparentar estar bem melhor do que estamos sentindo, pois, não queremos ser definidas por essa doença, mas, também pode significar que as pessoas a nossa volta pensarão que nós estamos super bem. Mas, lá no fundo estamos exaustas, indispostas e cansadas... e voltam as frases "É SÓ UM CÂNCER" "VOCÊ ESTÁ CURADA"... Ah, se as pessoas soubessem como essas frases nos cansam, né?

Não vamos dar conselhos sobre como lidar com o câncer, porque aprendemos que não há forma ‘certa ou ‘errada’ de lidar com a doença. Gostaríamos que alguém tivesse falado: ‘Seja gentil consigo mesma’, ‘seja sua melhor amiga’. Porque tivemos dificuldades em desacelerar e precisávamos nos lembrar que não há problema em descansar, em nos colocaremos em primeiro lugar, de vez em quando.

Muitas vezes não queremos conselhos sobre o que comer e beber, ou como viver a vida mais saudável, ou até mesmo a maneira de nos vestirmos após a cirurgia, ou quimioterapia. Pois, já nos sentimos péssimas, e não precisamos ficar nos perguntando "o que será que comi ou bebi para causar meu câncer", "Nossa, será que aquela roupa ficou feia porque fiz a cirurgia", quando acordamos às 4h da manhã.

Não conseguimos imaginar "o futuro", pois, muitas vezes ele parece incerto e longo, mas, conseguimos imaginar o dia em que finalizaremos o tratamento "ativo" da doença.

Nossa, ficamos imaginando esse momento né, o dia da comemoração, o dia da cura e da libertação.

Queremos terminar o tratamento com esperança e otimismo. Muitas de nós tem a sorte de passar o primeiro ano com os exames sem índicios de câncer. Então, começaremos o marcos dos dois anos, cinco anos, dez anos, sem a doença. Porém, algumas de nós descobriremos o câncer secundário, mas, descobriremos a coragem de olhar para os becos mais escuros da mente e enfrentarmos o medo, pois, já vencemos uma vez.

Ahh, vamos ser claras — este diagnóstico nos mudará fundamentalmente. Não estamos exagerando quando dizemos que nós podemos estar traumatizadas por nossas experiências. Descobriremos a alegria em lugares e pessoas que anteriomente nos negligenciávamos.

Encontraremos forças e resiliências. Acredite, isto é um crescimento pós-traumático.

Talvez não queiramos  falar ainda sobre o que passamos, ou passaremos. Mas, calma em algum momento você estará pronta.

Você nunca esteve ou estará sozinha.

O CÂNCER DE MAMA TEM CURA, TÁ?

Este texto foi originalmente escrito por Gabriela Magalhaes (advogada, bellydance, casada, filha, irmã, e apaixonada pela vida).

Ah, eu não sou o câncer... Por isso, não me identifico como PACIENTE ONCOLÓGICA.


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