Escrevi esse texto quando estava no penúltimo ciclo de quimioterapia! Me lembro perfeitamente como me sentia quando escrevi.
Difícil te defender…
Eu estava bem e achava que já tinha aprendido o que precisava com o câncer. Mas ele foi embora logo, e chegou a sua vez.
Chegou me mostrando que a verdadeira professora era você.
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A maioria das pessoas nem sabe como você funciona, mas te digo uma coisa: sua fama é ruim. Também pudera, você judia, chateia, machuca, muda o sono, o fôlego, o gosto das coisas, a vontade de comer, e até de sorrir. Muda nossa cara, nosso cabelo, nosso corpo, nossa essência! Você faz a gente mudar de figura, (literalmente).
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E eu me pergunto: como você pode estar consertando uma coisa, destruindo tantas outras? Difícil acreditar que você cura enquanto devasta. É difícil te defender.
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Eu tento ser sua amiga. Me arrumo, maquio e perfumo pra te encontrar, mas depois de alguns dias eu nem me lembro como tinha forças pra sair de casa e ir até você. Parece que nunca mais vou me recuperar e chego a duvidar que vou conseguir te encontrar de novo em tão pouco tempo.
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Me olho no espelho e vejo o quão devastadora você foi, reúno minhas forças e tento me recuperar e ter coragem de perceber e aceitar que está passando rápido tudo isso.
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E eu sempre espero que passe muito rápido. Não até nosso próximo encontro, mas até a nossa despedida, enfim. Não me leve a mal, eu sou grata por cada gota sua. Mas não vejo a hora de te dizer adeus.
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Eu não sentirei saudade, mas prometo que vou te defender. Obrigada por mudar tanta coisa em mim. Obrigada por me fazer enxergar o quanto sou forte. E obrigada por me curar!
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Mesmo tendo feito tantas coisas ruins, você me fez uma pessoa melhor. Serei eternamente grata a você, quimioterapia. Gratidão por cada ensinamento, mas já está chegando a hora de dizer adeus e até nunca mais!
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Vamos lá, você só tem mais dois encontros pra me ensinar o que preciso e me fazer melhor. Eu topo, aceito, confio, me entrego. Mas que passe logo e que nossos caminhos nunca mais se cruzem! Amém!