Quando soube que teria que fazer quimioterapia de novo, logo me foi oferecida a possibilidade de utilizar a crioterapia capilar (ou touca térmica) durante as sessões de quimio, na tentativa de diminuir a queda de cabelo e evitar a tão temida “careca”.
Num primeiro momento, achei que seria incrível - e talvez ainda seja.
Fui pesquisar. O Pubmed trouxe resultados animadores: em uma revisão, mais de 80% dos pacientes tiveram sucesso com seu uso (considerado quando a paciente tem queda < 50%). Outros artigos relatam que o principal motivo de desistência do uso da touca está relacionada à dificuldade de mantê-la nos primeiros 10-15 minutos da sua instalação. Dor de cabeça insuportável e frio são os principais sintomas.
Depois, fui pesquisar pacientes que tiveram oportunidade de escolha: usá-la ou não. Encontrei relatos diversos. Há quem tenha suportado e tido sucesso, há quem tenha abandonado seu uso por que apresentou queda importante a despeito dela, há também quem teve acesso e não usou por achar muito trabalhoso. Há quem não tenha tolerado seu uso por outros motivos (que, cá entre nós, nenhum artigo nomeia).
Mas em que grupo será que eu me encaixaria?
Na primeira sessão os temidos primeiros minutos foram bem tolerados, ganhei até parabéns. Mas os 21 dias seguintes foram bem chatos. Fiquei de mau humor e ranzinza. Não pela quimio, mas pela touca e todas as suas regras, dentre elas:
- Não lavar o cabelo mais de 2x/semana;
- Quando lavar, não esfregar;
- Não escovar todos os dias;
- Evitar prender e/ou molhar o cabelo.
O pesadelo foi se instalando. Quem me conhece sabe o quanto amo praticar atividade física, o quanto suo, o quanto sou calorenta, e por isso, meu cabelo vive preso. Nuca suada é meu pavor. Lavo todos os dias.
Apesar disso, eu tolerei.
No dia da segunda infusão da quimio conheci uma consultora de imagem que tem um projeto lindo sobre autoestima. Antes de começar a falar, ela validou todos os meus sentimentos e queixas. Disse em seguida, que costuma chamar a touca térmica de “touca da discordia”; depois disso, quase não escutei mais nada do que foi dito por ela. Já tinha a minha resposta. Era exatamente discórdia que a touca me causava.
- Coloque na balança filha. - disse minha mãe.
Mantive quase todas as orientações recebidas, mantive as orientações toleráveis pra mim.
Hoje acordei e decidi que iria pedalar, iria colocar capacete, sim. Não é mais tolerável, nem por um dia, deixar de fazer coisas que amo e que são alicerce da minha saúde, não apenas física.
Talvez isso prejudique o resultado esperado pela touca? Talvez, quem sabe? Nenhum artigo científico, nenhuma experiência individual tem essa resposta.
Fui pedalar, e além do capacete, teve chuva. Imprevisível. E tudo bem, eu estava feliz. Nem tudo cabe na balança da vida, algumas coisas são tão preciosas que não podem nem ser medidas. Cabe que a gente tenha coragem pra fazer escolhas.
É impossível ser forte e corajosa e não ser vulnerável, e pra ser vulnerável é preciso aprender a lidar com as incertezas.
Seguimos…