Há exatos 365 dias estive diante do maior desafio da minha vida: uma mastectomia após a descoberta de um CA de mama e todos os desdobramentos desse procedimento. Foram muitas consultas e exames de estadiamento que antecederam esse momento para que a decisão fosse acertada e eu estivesse segura dentro da insegurança que é entrar em um quarto escuro, chamado câncer, em busca do interruptor ou da janela para a luz. Uma montanha russa composta por diferentes e intensas emoções e muitas orações.
De lá para cá aconteceram tantas coisas que seria impossível descrever aqui, mas, resumidamente, nesse percurso maluco, até agora, somo 3 cirurgias, 4 quimios, 1 careca, algumas internações, 1 infecção que me fez perder o expansor e pausar a reconstrução, hormonioterapia com aplicações mensais de zoladex, inúmeros exames de sangue e de imagem, diversas consultas e muitos remédios. Aprendi a cuidar das veias (santa camomila), da imunidade, a escovar os dentes com a mão esquerda, a usar lenços variados, a assumir a careca em algumas situações e a me deixar ser cuidada. Aprendi a pausar.
Aprendi a me (re)conhecer. Achei que não seria capaz de me compreender na nova configuração, fui! Achei que não conseguiria seguir com o coração tranquilo, consegui! O espelho tem sido amigo e o autoamor possível. Fui capaz de ter várias conversas importantes comigo mesma para compreender cada etapa e o tempo das coisas. Chorei muitas vezes, porém tive mais para agradecer. Não por ter sido fácil, mas por ter aprendido a estar leve no processo e comemorar vitórias.
Tudo o que me rodeou - muito amor, fé, equipe médica e rede de apoio - permitiu que eu seguisse confiante. Agora, após uma cirurgia recente para retomada da reconstrução da mama (a primeira de duas), vou descobrindo novos desafios e caminhos possíveis para esse "eu" que renasce. Um novo corpo-casa que me guia, onde a dor e o choro cabem, mas não fazem morada. Onde é preciso seguir devagar para que tudo se acomode, sem medo, no tempo quando da vida.
A foto aqui escolhida faz parte da jornada que escolhi eternizar. Escolhi guardar esse histórico do meu corpo que se fez fortaleza para olhar para mim e ver que a vida está para além das formas e padrões, está na energia poética que pulsa de todas as outras partes que permanecem e são belas em suas imperfeições. Entendi que não é a falta, é o que ficou e somou. Talvez até pareça um olhar romântico, contudo, para mim, é realidade difícil e intensa que precisei encarar com os olhos bem abertos para não perder de vista todos os recursos que somei e não quero esquecer.
E você? Como se sente diante do seu novo corpo-casa?